Resenha Semanal

14 a 22 de junho 2019. Acuada, a direita morista inventa ataque de hackers russos para enfraquecer a Vaza Jato. Moro vai aos EUA e Bolsonaro reforça seu círculo interno.

Esta é a segunda semana sob o impacto das revelações do site Intercept. O estrago à reputação de Moro, Dallagnol e Lava Jato é considerável, mas eles ainda não caíram. Há suficiente indício de conluio de Moro com Dallagnol e procuradores, mas há a discussão acerca das revelações servirem como prova ou não. A defesa de Moro e aliados atacam Glenn Greenwald muito pesadamente e tentam imputar crime a ele. Parte da imprensa embarca nessa, em flagrante perigo à democracia, com generais e outros alardeando uma suposta conspiração internacional, o que dá medo, pois seria um jeito de envolver o PT e toda a esquerda numa conspiração para derrubar o Estado brasileiro e assim justificar um endurecimento do regime. No sábado 22, Moro anunciou que vai fazer uma viagem aos EUA. Visitará os “principais órgãos de segurança e inteligência do país”. 

Bolsonaro parece ter reagido às revelações fortalecendo seu círculo de poder mais próximo, nomeando pessoas de sua confiança para posições recentemente abertas por demissões. Deve estar calculando se a queda de Moro o fortalece ou o enfraquece. Na dúvida, apoia o ministro publicamente e pode estar preparando golpe.

Avalia-se que o presidente “foge para a frente” e se coloca em uma situação onde um golpe seja inevitável. Já conseguiu o apoio explícito dos evangélicos. A preparação para um fechamento de regime inclui os decretos de reorganização dos setores da inteligência militar, que agora estão altamente centralizados, subordinando inclusive o ministério da justiça. O presidente fez nova declaração explícita em favor de armas para civis: “…para que tentações não passem na cabeça de governantes para assumir o poder de prova absoluta”.

Comentaristas lembram que a Lula nunca teria sido permitido declarar o mesmo.

Não se sabe bem se a Lava Jato vai reagir às revelações entrando em colapso ou patrocinando um golpe bolsonariano…

A estratégia de conta-gotas do Intercept cria muita ansiedade, e, se não tiver bala de prata, o efeito pode ser o posto ao esperado. Alguns exigem publicação integral do material vazado. Glenn fez parcerias de publicação com a Folha e Reinaldo Azevedo, buscando dificultar uma ação contra ele.

Já outros comentaristas afirmam que Glenn é agente da CIA e que suas revelações são desenhadas para provocar uma reação da direita e fazer pegar na esquerda a acusação de conpiração internacional…

15 de junho

Olavo teria forçado a demissão do gal. Santos Cruz, pois este teria negado um pedido de R$400 mil reais para realizar um programa para a EBC. O general negou, e Olavo surtou nos ataques. Seria loucão uma Voz do Brasil com Olavo de Carvalho!

Moro nega autenticidade das novas revelações. Mourão fala em ataque de hackers russos contra a Lava Jato. Teme-se que Moro ative PF contra Intercept nesse ambiente conspiracionista. Restam poucas saídas a ele. Parece claro que isso vai ser tentado, resta saber quem irá aderir. A Globo está envolvida no campo da defesa de Moro, mas outros veículos estão menos moristas agora. São todos cúmplices da Lava Jato. O Estadão já pediu seu afastamento. Uns avaliam que Moro não tem mais serventia ao mercado ou aos americanos e será descartado. Outros dizem que o plano é exatamente criar o ambiente de desestabilização para esmagar a esquerda conspiração internacional.

Para a democracia prevalecer, seria necessário que os democratas sejam democratas, os liberais sejam liberais, coxinha seja contra a corrupção e queira justiça padrão FIFA. O STF teria que defender a lei…

O gal. Heleno surtou e esmurrou a mesa e pediu prisão perpétua de Lula em reunião aberta à imprensa. Depois, Toffoli tirou a votação da segunda instância da agenda do STF. Tem a votação da segunda instância no STF no dia 25 de junho…

Depois de demitir três generais em uma semana, ameaçou o presidente do BNDES, Joaquim Levy, com a exoneração já na próxima segunda-feira.

Depois do susto inicial, Moro preparou sua defesa, agora aparentemente controlada por alguma agência ou “gerente de crise”. Temos um suposto surto de ataques cibernéticos aos telefones de procuradores e juízes,

Moro declarou: “Não é só uma invasão pretérita que um veículo de internet resolveu publicar o conteúdo. Nós estamos falando aqui de um crime em andamento.”

Os hackers, segundo a narrativa do ministro da Justiça, “não pararam de invadir aparelhos de autoridades ou mesmo de pessoas comuns e agora têm uma forma de colocar isso a público”. Moro e aliados fazem o possível para associar esse ataque ao Intercept, que chama seu material de vazamento. Exige que o site revele sua fonte, o que é inconstitucional. “Esse veículo não tem nenhuma transparência com relação a esse conteúdo. Então vai continuar trabalhando com esses hackers?”.

Me fez recordar quando o site Antagonista transmitiu ilegalmente, ao vivo, o depoimento de Marcelo Odebrecht em abril de 2017. A defesa reclamou com Moro, que apenas disse não poder fazer nada. A transmissão continuou, isso sim um “estado de flagrante delito”.

Greenwald é corajoso: está apostando cada vez mais alto sem mostrar a mão que tem. Rebate ataques dos procuradores e chamou Moro de mentiroso sociopata, o que nenhum brasileiro faria.

16 de junho

Tacla Durán, advogado da Odebrecht, foi chantageado pela Lava Jato. Faz anos que tenta contar sua história. Agora foi descoberto pela imprensa.

17 de junho

Moro e Dallagnol não caíram e avalia-se se eles sairão fortalecidos.

Um perfil falso, o “Pavão Misterioso”, publicou a suposta identidade do hacker, que ligaria GG a Snowden e a uma conspiração internacional. O MBL repassou a informação, e Carlos Bolsonaro ficou tuitando sobre um “pavão”. Outros sites de direita repercutiram muito.

Levy pediu demissão no final de semana e causou muita reação negativa. Rumores de insatisfação do mercado ganham as páginas dos jornais.

É muito ruim ficar só olhando a bolinha no jogo de pingue-pongue entre Greenwald e a Lava Jato. A demora em sair novo material é angustiante de dá medo de tudo dar errado de alguma forma. A esquerda segue meio paralisada.

18 de junho

Depois da espera, saíram novos trechos de diálogos entre Moro e Dallagnol, desta vez mostrando como eles pouparam FHC nas investigações da Lava Jato.

Saiu que Queiroz tem envolvimento em dois assassinatos. Ele, mulher e filha continuam foragidas.

Foto: arquivo pessoal de Luiz da Luz

O governo de Goiás promoveu “por merecimento” o capitão da Polícia Militar Augusto Sampaio de Oliveira Neto. Autor da agressão contra um estudante durante uma manifestação contra as reformas trabalhista e previdenciária em 2017 no centro de Goiânia, Neto foi promovido para o posto de major. Tamanha foi a força do golpe que o cassetete partiu ao meio. O golpe foi na cara. O estudante ficou 14 dias internado, e as fotos e vídeo mostram que a agressão foi covarde e sem nenhuma justificativa, mesmo as usuais dadas pela PM. Recordo-me que a Folha, acho, relatou inicialmente que “um homem vestido de policial” fora o autor da agressão.

19 de junho

Moro depôs no Senado. Não acompanhei mas parece que não foi demolidor. Dizer que não lembra de diálogos específicos, que foi crime o vazamento e querem parar a lava jato foi o mote geral de sua defesa. A oposição não matou. “Precisa de áudio!!” gritam na esquerda.

Senado barrou o decreto das armas de Bolsonaro. Congresso parece que conduz a Previdência, e Maia se cacifa para substituir Bozo.

Bolsonaro foi à Marcha com Jesus, renovou a promessa de um evangélico no STF e fez o gesto da arminha com Jesus estampado no peito.

20 de junho

A revista IstoÉ repercutiu o site Pavão Misterioso e fez ameaças implícitas ao Intercept em artigo, afirmando que a PF prepara grande operação contra o hacker que ataca a Lava Jato e seus colaboradores. A direita, Lava Jato e Moro estão armando uma reação aos vazamentos. Fala-se ainda muito nos tais hackers, no vínculo com a Rússia, na ação orquestrada em andamento etc. Pode ser uma coisa pífia, tipo só fazer barulho com indícios bem discutíveis… ou vem aí uma prensa mesmo, com prisão de Glenn. O Intercept fez parceria com Reinaldo Azevedo e este revelou mais passagens do diálogo de Moro com Dallagnol, onde não apenas a interferência do juiz nas investigações é confirmada, mas que Moro mentiu no Senado. Parece que o Jornal Nacional não está embarcando na defesa incondicional de Moro. UOL e Veja também. Está virando?

Fui ao bar com M e ele disse que a instabilidade e crises institucionais são usuais no Brasil: ele esteve lendo sobre o período após a queda de Getúlio até o golpe de 1964.

Sonhei que assoava o nariz e saiu uma uva passa. Ela inchou, foi crescendo e rasgou, revelando dentro uns padrões coloridos e lisérgicos, fluidos. A massa foi crescendo, metamorfoseando, e tomou uma forma humanoide. Esse gigante começou a correr atrás de mim, gritando “Telegram!”.

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