Resenha Semanal

16 a 23 de agosto. A semana foi dominada pelas chamas amazônicas que podem por o governo em combustão. O agronegócio acusa as repercussões e poderemos testemunhar um racha no consórcio do golpe.

Acenderam o pavio do Brasil? Parece que saímos do reino das fezes para o vale das chamas…

Jurei jurei não mais banhar-me na torrente atordoante de notícias, tudo Bolsonaro, tudo paralisia… Tento mais ou menos focar em saídas e promessas e menos rancor. Dos rancores falo mais abaixo, e a promessa da mobilização pelo meio ambiente pode quebrar o encanto do bolsonarismo.

A semana começou com o Brasil em chamas, e as línguas de fogo podem ter acendido o pavio da população. Certamente acendeu internacionalmente, pois a imprensa global manchetou muito os fogos florestais e a questão pode ter acendido um sentimento popular que estava em busca de um canal de fissão. Líderes internacionais condenam as queimadas e a atitude do governo. Mas o general Eduardo Villas Bôas convocou os brasileiros a “se posicionarem firmemente” diante dos “ataques diretos à soberania brasileira, que inclui, objetivamente, ameaças de emprego do poder militar” que teriam sido feitas pelo presidente francês Emmanuel Macron. O françês declarou que seu país vai se opor ao acordo assinado com o Mercosul. Eduardo Bolsonaro, o futuro embaixador, chamou-o de idiota. Quatro dos países do G7 se posicionaram contra o desmatamento. Até os EUA. O agronegócio brasileiro acusou o golpe e está muito preocupado.

Vejo agora na TV do boteco, sem som, a legenda do Globo News que traz algo como: “Governo cria gabinete de emergência para lidar com crise das queimadas”. Prepararam um documento com “esclarecimentos” que distribuíram para as embaixadas brasileiras.

Hoje, sexta, tem manifestação pelo meio ambiente. Essa questão, que existe há décadas, hoje em dia tem nova radicalidade e urgência, expressa pela emergência de grupos como o Extinction Rebellion, que usa da desobediência civil para avançar pautas ambientais. Hṕa muitos outros grupos se compondo emfrentes amplas. Promete.

Já disse o mesmo da pauta da educação, que parece ter murchado por ora, mas a agenda ambiental pode explodir onde a esquerda e o campo popular não consegue furar a bolha e driblar os impasses da esquerda institucional atual.

A questão ganhou tinturas apocalípticas na segunda-feira, quando a cidade viu, como nas narrativas milenaristas, o céu escurecer de dia e chover gotas negras. Apesar da fumaça que causou a escuridão ter vindo da Bolívia e não da Amazônia brasileira, parece, colou a sensação de que o “Dia do Fogo” dos ruralistas é o sinal dos tempos urdido nacionalmente.

Eu mesmo estava enfurnado em casa por volta das 15h, o pico da escuridão, mas li e ouvi muitos relatos de gente que testemunhou o fato. Vi depois na tela da TV do boteco o Jornal Nacional mostrar as cenas.

Os ruralistas buscavam “chamar a atenção do presidente” com as queimadas. O INPE registrou nas horas seguintes uma explosão dos focos de incêndio na região. A estrutura de combate às queimadas foi desmontada pelo governo. Com maior força na Amazônia, os incêndios se estenderam pelos Estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegando à tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai. O Brasil vive a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

19 de agosto

Teve o evento “Moro Mente”, na Faculdade de Direito da USP. Não fui, mas parece que foi legal.

Já os alunos e professores do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) do Rio de Janeiro impediram na terça-feira dia 19 o interventor Maurício Aires Vieira de assumir o posto de diretor-geral na instituição. Eles fizeram uma barreira humana na sala da direção e outras áreas da escola. Vieira acabou deixando o local após 30 minutos de sua chegada. Isso sim! Espero que as congregações e conselhos universitários pelo Brasil afora estejam buscando fazer o mesmo!

20 de agosto

Lembramos bem do governador Witzel..

Sequestro de ônibus na ponte Rio Niterói. O sequestrador foi abatido por franco-atirador da polícia. Todos os reféns saíram ilesos. O governador Witzel chegou de helicóptero e comemorou a morte do sequestrador como se fosse um gol ou como se enchesse um pneu de bicicleta no ar com uma bomba invisível. Também abraçou o atirador, feliz que a ação saísse como uma ilustração de como quer apresentar sua política de assassinato nas favelas: “só bandido morre”. As mortes causadas pela polícia aumentaram no Rio desde janeiro. Além disso, Witzel tentou ligar o sequestrador “terrorista” com a esquerda.

Subi no ônibus Vila Mariana para seguir meu caminho para casa e ouvi a conversa do cobrador com o motorista. Eles falavam do sequestro no Rio de Janeiro. O cobrador ponderava a atitude do governador Witzel, tentando expressar como desgostava do gesto de comemoração, enquanto o motorista debochava e dizia que tinha que ser assim mesmo. Chamou-me a atenção que o cobrador só conseguiu dizer “Mas e a ética, como fica?”. Depois de um pouco, passaram a falar de jogos de guerra que jogavam, como o Medalha de Honra, “o melhor game que tem”.

O deputado Alexandre Frota revelou que abandonou as redes e se retrata da violência que operou, mas com ressalvas. A agressão que cometeu foi “sempre contra adversários” e não contra a família. “ não me arrependo, vou pra guerra, era o momento e era necessário”. E critica colegas que votam de acordo com as redes. Afirmou, erroneamente, que “Bolsonaro mudou muito desde a campanha”. Expulso do PSL, filiou-se ao PSDB de Dória. Ambos atuaram em filmes ponográficos.

Haddad foi condenado à prisão. A peça do juiz é estapafúrdia, de 500 páginas, onde mais de 50 páginas são apenas de citações completas de livros. Juridicamente não se sustenta, mas, quem precisa de consistência? Os processos de Lula, de Preta Ferreira, de Rafael Braga, nenhum deles é consistente e todos foram presos.

Mas deu um medão, pois nessa mesma semana Bolsonaro mandou o BNDES revelar que tanto Luciano Huck como Dória usaram de financiamento do banco estatal para comprar jatinhos particulares. Acho que o presidente está queimando todos os possíveis opositores na reeleição de 2022. Antevi Haddad sendo preso e todos os outros, incluindo Moro, abatidos. Bolsonaro vai liquidar os tucanos e todos aqueles que bateram panela, que foram à Paulista de verdeamarelo, e que assistiram a prisão de Lula em casa. Assim eu não aguento.

Foi revelado que a família de Michelle Bolsonaro tem ligações com o tráfico e com o crime.

Li hoje que a liderança de uma facção do tráfico, o TCP (Terceiro comando Puro) se converteu ao cristianismo e persegue as religiões de matriz africana em seus territórios. Essa aliança é sinistra e vai destruir o Brasil: nosso futuro é a Síria. O tão demonizado Estado Islâmico é exatamente isso, o crime mais religião, miliciano e fé.

22 de agosto

A Vaza Jato revela que a Lava Jato falou manso com os grande s bancos, que foram poupados. A Lava Jato fez acordos para evitar “risco sistêmico”, ou seja, causar um possível efeito dominó para a economia…

Sérgio Moro está sendo fritado, a celeuma em torno do comando da Polícia Federal é o pomo da discórdia atual. Sites de extrema-direita pressionam para que o presidente demita Sérgio Moro e arque com o ônus.

Momento ressentimento: mais madalenas arrependidas engrossam o cordão: além de Frota e Marina Silva, agora também o secretário da Cultura o autor de novelas Aguinaldo Silva, da Rede Globo. E também o Partido Novo, que renega o ministro Salles, filiado ao partido… diz que ele não foi indicação da agremiação e não segue as orientações partidárias…

Ao renunciar, ele afirmou que não poderia ser conivente com a censura ideológica anti-LGBT imposta à ANCINE: “Nós, gays e etc., teremos que nos esconder ou então correr da polícia de novo como acontecia na década de 70? É o que parece”, escreveu em seu twitter. Só que ele defendeu o capitão durante a campanha, e foi um dos muitos homossexuais que apoiou o extremista: “Segundo a Veja, Bolsonaro é uma ameaça. Mas alguém pode me explicar porque Bolsonaro é uma ameaça, e Lula, Ciro e Marina não?”.

Loka, eu desenho tudinho pra você na fila da execução, ok querida?”

Só que o centro, democratas e conservadores estão paralisados pelo fato da extrema-direita estar contemplando sua pauta. Eles não conseguem erguer suas panelas e bater contra a corrupção evidente do governo, da clã, do Moro, da Lava Jato…

É verdade que parte da reclamação de quem não é de esquerda e quer se engajar na luta pela educação e pela universidade, por exemplo, não consegue superar a presença dos sindicatos e do Lula Livre nas manifestações.

Eu sou o primeiro a reclamar do carro de som e da presença centralizadora das direções institucionais e das pautas partidárias (Lula Livre) nas manifestações que devem ser mais abertas. E da hegemonização destruidora de toda a luta pelo PT que tenta ainda se salvar a custo do movimento popular.

Mas o calvário da galera que ficou em casa quando a Lava Jato reinava e quando a escolha era entre a centro-esquerda moderada e a extrema-direita ainda nem começou. A esquerda está vagando no deserto desde 2016, pelo menos, enquanto tucano e paneleiro nem atravessaram o Mar Vermelho ainda. Querer sair bonito e democrata agora vai custar caro. A última frente de oposição de que eles participaram foi contra a Dilma, com Cunha e Aécio.

Por um lado eu espero uma esquerda mais plural e possivelmente menos partidária e mais orgânica, horizontal, livre do hegemonismo do PT, mas é preciso perguntar a tucanos e democratas liberais onde está a sua legitimidade para liderar uma resistência ao extremismo bolsonariano. Pois não se trata apenas de montar uma frente democrática, trata-se de garantir que nunca mais eles vão me vender no mercado de cadáveres políticos, como fizeram recentemente. Se não quer Lula ou o PT liderando, entrega e queima o Aécio, o Alckmin, o Serra, o Dória e demais comparsas. São eles que estão também a arruinar a universidade. O PT está escaldado dos tucanos traidores, e não adianta voltar agora arrependidos achando que ninguém vai lembrar que vocês foram à Paulista ao lado de militaristas e fascistas a pedir o fechamento do STF e do Congresso. Eu estive lá e vi todos vocês, com seus filhos e empregadas.

Na mesa ao lado, bolsonarista, em outro boteco, no dia de hoje (quinta-feira), ouço: “Aumentou o fogo e ele é presidente ,o que tem a ver?” Depois vão dizer que quer por fogo na Groenlândia…”. Mais tarde, a mesa liga o nióbio à reação às queimadas na Amazônia. É muito louco o nacionalismo seletivo da extrema-direita: deixaram vender o pré-sal, a Petrobras e outras empresas estratégicas, mas a Amazônia agora é um assunto de segurança nacional…. Canalhas!

23 de agosto

Saiu que Dallagnol foi pago um total de mais de um milhão de reais por palestras que proferiu.

Hoje tem manifestação pelo clima e outras atividades políticas ligadas ao meio ambiente.

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