‘Duas caixas de documentos': entenda denúncia feita por ex-superintendente da PF contra ministro Ricardo Salles

  • Felipe Souza - @felipe_dess
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Ricardo Salles, diante de Paulo Guedes, em foto de fevereiro

Crédito, Reuters

Legenda da foto,

Ricardo Salles fez declarações contra a operação e até mesmo visitou a área onde a madeira foi apreendida

O então superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, apresentou uma denúncia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e o senador Telmário Mota (Pros) em 14/04. A acusação foi feita com base em uma investigação que terminou com a apreensão de mais de 200 mil metros cúbicos de madeira, avaliados em cerca de R$ 130 milhões, no fim de 2020.

Em entrevista à BBC News Brasil, o delegado Alexandre Saraiva disse ter encontrado evidências de que Ricardo Salles e Telmário Mota tentaram prejudicar as investigações do caso.

As principais evidências, diz ele, surgiram depois de analisar documentos recebidos de madeireiros. A intenção deles era provar que a maior apreensão de madeira feita até hoje pela PF era, na verdade, legal.

"Mas o que encontramos foram fraudes muito claras e muito graves. Em razão disso, quando acontece um crime, devemos tomar as medidas previstas em lei. Quando a pessoa tem foro privilegiado, devemos comunicar a corte que tem atribuição para investigar aquele delito e foi o que fizemos", afirmou Saraiva referindo-se aos indícios de crimes cometidos pelo ministro e pelo senador.

Na quarta-feira, Saraiva enviou ao Supremo Tribunal Federal a notícia-crime contra Ricardo Salles e Telmário Mota. O delegado diz ter encontrado provas de três crimes: atrapalhar a fiscalização ambiental, advocacia administrativa e embaraçar investigação destinada a combater uma organização criminosa.

Questionado, ele disse que não se recorda "em detalhes" do conteúdo dos documentos que incriminariam Ricardo Salles e que "cabe ao STF fazer qualquer juízo" em relação a eles.

De acordo com o ex-superintendente da Polícia Federal, Salles e o senador causaram "obstáculos à investigação de crimes ambientais e buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública''.

Agora, o STF vai analisar o documento e decidir se abre uma investigação a partir das acusações ou arquiva a denúncia.

Interferência ministerial

A denúncia do ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas se baseia nas investigações que ocorreram após a apreensão de 200 mil metros cúbicos de madeira, avaliados em cerca de R$ 130 milhões na operação Handroanthus GLO. Ela é considerada pela PF a maior da história.

Desde a apreensão histórica, o ministro Ricardo Salles fez críticas à operação e, recentemente, até mesmo visitou a área entre os Estados do Pará e Amazonas, onde a madeira foi apreendida e continua parada. Salles se reuniu com madeireiros da região e demonstrou acreditar na legalidade da madeira apreendida e na inocência dos madeireiros.

Delegado Alexandre Saraiva

Crédito, Divulgação/Polícia Federal

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O delegado Alexandre Saraiva identificou 3 crimes cometidos pelo ministro e o senador

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O ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas disse à BBC News Brasil que "não imagina o motivo" desse posicionamento e vê a interferência do ministro "com muita preocupação".

"Por isso fizemos a comunicação ao STF. Também há o fato de que o Ibama está sempre ao nosso lado com a parte administrativa em todas as operações que fizemos. Mas isso não aconteceu na operação Handroanthus e isso deve ser explicado", disse Saraiva.

'Provas contundentes'

O ex-superintendente da Polícia Federal disse ter certeza de que ocorreram crimes logo após o ministro Ricardo Salles fazer um chamamento para que os madeireiros apresentassem documentos que provassem que eles exerciam uma atividade legal.

"Depois disso, foram apresentadas duas caixas de documentos para a gente no sábado (10/4). A gente trabalhou o fim de semana inteiro para analisá-los, pois estávamos preocupados em dar uma resposta rápida ao pedido", contou o delegado da PF à BBC News Brasil.

Saraiva disse que já havia indícios de crimes e interferências cometidas em momentos anteriores, mas que ele ainda não tinha provas contundentes para fazer uma denúncia ao STF.

"Alguns episódios vinham acontecendo, mas que no nosso entender não chegavam a esse ponto. Eu preciso ter um grau de certeza grande para fazer uma denúncia. Não pode ser algo sondado. E só domingo, após a análise desses documentos, tivemos essa convicção", afirmou Saraiva.

Já na quinta-feira (15/4) começaram a surgir rumores de que o superintendente pode ser substituído do cargo após apresentar a notícia-crime contra o ministro.

Madeira retirada ilegalmente em Rondônia, em foto de março

Crédito, Reuters

Legenda da foto,

Denúncia teve origem durante investigação de apreensão recorde de madeira pela PF

A Polícia Federal disse à BBC News Brasil que não comenta essas trocas, mas ressaltou que há dez dias houve uma troca na direção da Polícia Federal e que é normal que ocorram mudanças a partir da nova gestão.

Saraiva disse que não recebeu nenhum comunicado ou publicação no Diário Oficial e que não se manifestaria "sobre uma notícia que está na imprensa".

O senador Telmário Mota informou por meio de nota que "Alexandre Saraiva, mais uma vez busca os holofotes com uma notícia-crime patética, sem fundamento e elaborada apenas para ganhar espaço na mídia e nas redes sociais".

Mota afirma ainda que o "delegado cria suas próprias leis criminalizando todo um setor, sem distinção de quem está dentro da legalidade ou não, causando assim, a falência de diversas empresas e deixando mais de 15 mil trabalhadores desempregados, apenas em Roraima, numa época de crise mundial."

O senador diz ainda que "em momento algum pratiquei as condutas descritas. Como parlamentar, apenas denunciei os procedimentos ilegais cometidos pelo delegado, que sistematicamente utiliza da PF para sua própria promoção pessoal. Estou convicto que a notícia-crime será arquivada de plano pelo MPF."

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente informou que "a resposta será dada em juízo".

Línea

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