Por Poliana Casemiro, g1 Vale do Paraíba e Região


Sede do Inpe fica em São José dos Campos — Foto: Wilson Araújo/TV

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fechou 2021 com o menor orçamento nos últimos 10 anos. A instituição recebeu R$ 85 milhões, sendo quase metade do valor comprometida com custos de operação.

A queda de verba impactou diretamente em episódios em que serviços do Inpe ficaram em xeque por falta de dinheiro, como o risco de encerrar o monitoramento do Cerrado e a desativação do supercomputador que faz monitoramento da crise hídrica por uma sobrevida de menor potencial (veja abaixo os valores ano a ano).

De acordo com a direção do Inpe, entre os projetos em andamento, custos de manutenção e prédio são gastos R$ 40 milhões, que já ficam comprometidos na largada. O ano de 2021 foi um dos mais sensíveis para a instituição, que trouxe a público a crise com risco de operação e encerramento de pesquisas importantes.

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Segundo os dados acessados pelo g1, a queda de orçamento entre 2020, quando o orçamento era de R$ 135 milhões foi de 37%. O orçamento anterior já não vinha permitindo investimentos em novas pesquisas de grande porte, mas pesquisadores classificaram o ano à reportagem como o mais difícil para o instituto.

“O ano passado foi muito difícil. Esse decréscimo vai custar caro para o Brasil lá na frente. Os sistemas espaciais são infraestrutura básica de um país. Não tem como desenhar futuro sem investimento e desenvolvimento neste setor”, disse o diretor do Inpe, Clezio De Nardin.

A redução foi resultado de um corte geral de orçamento nos ministérios, que impactou o Ministério da Ciência e Tecnologia, segundo Clezio. O orçamento vinha em queda desde 2019, mas nunca esteve tão enxuto.

Verba destinada ao Inpe nos últimos dez anos
Fonte: Inpe

Linha do tempo da falta de verba

A verba enxuta deixou partes importantes do Inpe vulneráveis. O primeiro ato foi o corte de 107 bolsistas logo no começo de 2021. Isso porque a discussão do orçamento federal atrasou e o ano começou sem que o instituto tivesse a verba de subsistência.

Hoje, o Inpe funciona a maior parte com mão de obra temporária – embora como instituto federal, haja concursados – e depende de orçamento de bolsas para pesquisa. O corte colocou em risco o lançamento do Amazônia 1, que já estava em solo internacional para o lançamento.

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Depois, veio o risco de apagão de dados com o desligamento do supercomputador. O equipamento é responsável pela previsão do tempo e clima, enviando dados ao governo sobre estiagens – como a que afeta atualmente São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. Com isso, em meio a um alerta de escassez hídrica, o governo ficaria às cegas.

O Inpe conseguiu um aporte de verba de um programa das Nações Unidades e adquiriu um equipamento, mas de menor porte. A expectativa é de que até o fim de 2022 seja aberto o edital para a compra de uma máquina de maior porte e sem limitações.

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A outra ameaça de apagão veio em dezembro, quando por falta de verba, o Inpe teve de desmobilizar a equipe que faz o monitoramento do Cerrado – o segundo maior bioma brasileiro e o mais desmatado em 2021.

O orçamento para a pesquisa é de R$ 2,5 milhões ao ano, mas com o enxugamento não havia previsão de verba para o setor e o governo federal deve ficar em apagão oficial a partir de abril. O Inpe informou que tenta parcerias externas para manter, mas não há nada formalizado.

Expectativa

Este ano, a Lei Orçamentária Anual (LOA) previu um aumento na verba, com orçamento de R$ 92 milhões, ainda distante do que vinha sendo aplicado antes. Grande parte do valor segue comprometido com a operação do Inpe e sem espaços para investimentos.

Segundo a direção, além disso, o Inpe ainda precisa trabalhar na incerteza, já que há risco de contingenciamento. A aprovação da LOA já veio com corte para a ciência.

“Há anos a ciência tem sido colocada em segundo plano e é um risco. Este ano temos um orçamento maior, mas ainda no limite e eu tenho que trabalhar com o risco da verba contingenciada”, disse Clezio De Nardin.

O g1 acionou o Ministério da Ciência e Tecnologia, mas aguardava o retorno até a publicação da reportagem.

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