Desmatamento para expansão pecuária em Lábrea, município amazonense campeão de devastação em abril (Foto: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas/Set. 2021)]

#PRESS RELEASE

Desmate em abril é 74% maior que o recorde

Área de alertas detectada pelo sistema Deter, do Inpe, ultrapassa 1.000 km2 pela primeira vez num mês que ainda é de chuvas

06.05.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

DO OC – Jair Bolsonaro dobrou a meta. Em plena estação chuvosa, a área de alertas de desmatamento na Amazônia em abril chegou a surreais 1.012 km2, um número 74% maior do que o recorde anterior da série histórica, batido no ano passado pelo próprio Bolsonaro (580 km2). Comparada à média dos seis anos anteriores para abril, a área de alertas é 165% maior.

Esta é a primeira vez na história do sistema Deter-B, do Inpe, que os alertas mensais de desmatamento ultrapassam 1.000 km2 no mês de abril. Isso é grave porque abril ainda é um mês de chuvas na Amazônia — o último do chamado “inverno” amazônico, quando o ritmo das motosserras naturalmente arrefece. Antes do governo Bolsonaro, era raro um dado mensal de alertas ultrapassar 1.000 km2 até mesmo na estação seca.

E um detalhe: o dado de abril se refere a apenas 29 dias. O mês ainda não fechou nas medições do Inpe, o que só ocorrerá na semana que vem. Portanto, o número final será maior que 1.012 km2.

No acumulado do ano até aqui (o Inpe sempre mede o desmatamento de agosto de um ano a julho do ano seguinte), os alertas já chegam a 5.070 km2, 5% a mais do que no ano passado e segundo maior número da série histórica — perdendo apenas para o recorde de 5.680 km2 batido pelo próprio governo Bolsonaro em 2020. Desde agosto passado, os alertas vêm batendo recordes: em outubro, janeiro, fevereiro e agora em abril.

O Estado do Amazonas foi o campeão de alertas pela primeira vez no ano, com Lábrea, no sul do Estado, na primeira posição entre os municípios mais desmatados. Isso se deve à explosão da grilagem na região, por conta da tentativa do ex-ministro da Infraestrutura e hoje candidato ao governo paulista, Tarcício Freitas, de pavimentar na marra a BR-319 (Manaus-Porto Velho). A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação.

Alertas mensais de desmatamento precisam necessariamente ser olhados com cautela por uma série de motivos. Primeiro, o sistema Deter não é feito para medir área desmatada, e sim para orientar o trabalho do Ibama (que, como é sabido, não tem ocorrido durante o regime Bolsonaro devido ao desmonte do órgão promovido pelo governo). O Deter é ágil, mas seus satélites são “míopes”, sendo incapazes de enxergar pequenas áreas desmatadas. O dado oficial é informado pelo sistema Prodes, mais lerdo, porém acurado, uma vez por ano.

Depois, as detecções mensais do Deter são muito atrapalhadas por nuvens, em especial nos meses de novembro a abril, quando a floresta está debaixo de chuva. Há uma chance grande de o número de alertas de abril incluir desmatamentos dos meses anteriores que não puderam ser vistos pelo satélite por estarem sob nuvens. No fim de cada mês, o Inpe informa o percentual da floresta que estava encoberto. O de abril será conhecido na semana que vem.

Feitas essas ressalvas, a magnitude do dado surpreendeu os técnicos e sinaliza que a taxa de desmatamento de 2022 deverá ultrapassar novamente os 10.000 km2. Não é possível descartar um inédito quinto aumento consecutivo da devastação.

“As causas desse recorde têm nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro. O ecocida-em-chefe do Brasil triunfou em transformar a Amazônia num território sem lei, e o desmatamento será o que os grileiros quiserem que seja. O próximo presidente terá uma dificuldade extrema de reverter esse quadro, porque o crime nunca esteve tão à vontade na região como agora”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

 

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