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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Corrija-se, general: Dom Phillips foi morto por ser jornalista, e não como "gaiato"

"Dom sabia muito bem o que fazia no Vale do Javari", diz o jornalista Moisés Mendes ao rebater desqualificação do jornalista inglês feita por Hamilton Mourão

Hamilton Mourão e Dom Phillips (Foto: ABr | Reprodução)
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Por Moisés Mendes, para o 247 

A definição como aventureiros, usada por Bolsonaro para tentar desqualificar Bruno Pereira e Dom Phillips, parecia insuperável como grosseria e crueldade. O general Hamilton Mourão conseguiu outra ainda mais cruel.

Mourão disse que Dom Phillips foi assassinado porque “entrou de gaiato nessa história”. O sentido de gaiato aqui é o mais óbvio possível, usado como definição pejorativa no Rio Grande do Sul, a terra do general e dos gaiatos fanfarrões.

O gaiato é o sujeito que, por uma mistura de excitação, ingenuidade e ignorância, é levado a se envolver em algum episódio para o qual não foi chamado. É alguém que nem sabe direito que não deveria estar onde estava.

Um gaiato pode, na definição usada por Mourão, levar um tiro no peito por estar diante de uma espingarda de caça. Os bandidos do Vale do Javari mataram Dom só porque ele estava junto com Bruno Pereira. É a tese do general.

Mourão contribui com mais uma explicação à brasileira para ações criminosas contra jornalistas assassinados em serviço. Matam gaiatos em guerras, em investigações de máfias, em ruelas onde não deveriam ter entrado, em emboscadas.

Assassinos de jornalistas geralmente ficam impunes, porque um dos argumentos usados é o mesmo do general. O jornalista estava de gaiato no lugar errado e se metia na vida de poderosos ou de mandaletes de quem tem poder.

Julian Assange é o mais célebre gaiato do momento, por ter entrado na floresta das atrocidades de guerra dos americanos. Tim Lopes foi um gaiato ao avançar no território dos traficantes da Vila Cruzeiro.

O jornalismo gaiato sempre passa dos limites, porque não aceita as cercas farpadas erguidas pela bandidagem em torno de grilagens, orçamentos secretos, ranchos de Viagra, vacinas superfaturadas e rachadinhas.

Dom Phillips somente era reconhecido como um dos grandes nomes do jornalismo britânico porque agia, conforme a definição de Mourão, quase sempre como um gaiato.

Mourão está certo de que Dom morreu pelo que classifica como “efeito colateral”. O general reduz o jornalista à condição de acompanhante sem importância de Bruno. Quando já está provado que ali a situação era inversa.

Por conhecer a região, Bruno é que acompanhava Dom na aventura gaiateira. Um jornalista no momento nobre da profissão, a hora de mergulhar na apuração, quando é preciso sair atrás do que deve ser contado, é definido como gaiato.

Não há jornalismo sem apuração, muito menos o investigativo, nessas circunstâncias, sem que os pés fiquem sujos de barro ou de sangue. Dom morreu porque estava sendo jornalista na plenitude, e não por gaiatice.

Ninguém mata um gaiato com uma arma que espalha chumbo porque, conforme outra tese do general, está armado num domingo, e domingo é o dia da bebedeira.

Até os matadores de Bruno e Dom sabem que gaiatos mesmo foram os que fracassaram na missão de proteger a Amazônia. Esses são os grandes gaiatos.

São gaiatos os que não conseguiram evitar que grileiros, contrabandistas, garimpeiros, traficantes e assassinos de índios se apoderassem da Amazônia.

Dom sabia muito bem o que fazia no Vale do Javari. E sabia também que alguns emissários do governo, em postos de comando, misturados aos verdadeiros gaiatos e perdidos em meio a boiadas e cachorradas, apenas fingem atuar como gaiatos.

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