PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

Gestão Bolsonaro veta indicação de professora da USP que listou erros na pandemia para comitê da OMS

Ministério diz não ter visto 'perfil adequado para a função'. Entidades científicas falam em ação 'ideológica' e saem em defesa de Deisy Ventura, que criticou gestão federal da crise sanitária

29 set 2022 - 19h34
(atualizado em 30/9/2022 às 08h51)
Compartilhar
Exibir comentários

RIO - O Ministério da Saúde vetou a indicação do nome da pesquisadora da USP Deisy Ventura para integrar o comitê que atualizará o Regulamento Sanitário Internacional (RSI), um dos mais importantes da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em nota, o ministério limitou-se a afirmar que "foi consultado sobre a indicação da profissional e considerou que não era o perfil adequado para a função".

Deisy Ventura é professora titular de ética da Faculdade de Saúde Pública da USP. Lá, coordena o programa de pós-graduação em saúde global e sustentabilidade. Também é professora do programa de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP. Teve forte atuação pública durante a pandemia de covid-19.

A especialista é coordenadora do único grupo de trabalho do País sobre reforma do RSI. É formado por profissionais da USP e da Fiocruz.

O principal objetivo do comitê da OMS é oferecer conselhos técnicos ao diretor-geral da entidade, em caso de "emergência de saúde pública de interesse internacional". O comitê inicia os trabalhos já na semana que vem.

Pelo menos três entidades ligadas à ciência e à saúde pública criticaram a decisão do Ministério da Saúde. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Faculdade de Saúde Pública da USP e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) acusaram o governo de agir na contramão dos interesses do País.

"Ao se opor ao nome da pesquisadora sem apresentar explicações, o Ministério da Saúde age de forma puramente ideológica enquanto a OMS busca escolher entre as personalidades mais qualificadas por sua competência técnica", sustenta a nota da SBPC e da Abrasco.

A universidade também se manifestou. "A professora Deisy teve atuação destacada no enfrentamento da pandemia de covid-19, contribuindo de modo inestimável para a proteção social", apontou a nota da USP. "Sua projeção como liderança acadêmica motivou o convite da OMS para participar da importantíssima missão de rever o regulamento sanitário internacional. O injustificado veto (...) envergonha o País em nível global."

No início de 2021, no auge da pandemia, a equipe de Deisy Ventura publicou um estudo, segundo o qual o presidente Jair Bolsonaro teria optado pela estratégia de alcançar o mais rapidamente possível a imunidade de rebanho por meio da disseminação intencional do vírus. Por isso, o presidente demorou a comprar vacinas, defendeu um tratamento ineficaz e boicotou as políticas de isolamento social, sustentou a especialista.

"Nosso estudo mostra que há um plano sistemático de disseminação do coronavírus no Brasil promovida pelo governo federal por razões eleitoreiras e econômicas", afirmou a pesquisadora em entrevista ao Estadão na ocasião do lançamento do trabalho.

Para chegar a essa conclusão, o grupo analisou 3.049 normas federais relativas à pandemia produzidas em 2020. Também estudou as falas públicas do presidente. O estudo teve grande repercussão internacional. E embasou um pedido de impeachment contra Bolsonaro por crime de responsabilidade.

"Trata-se de uma pessoa altamente qualificada", afirmou o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro. "Mas ela é uma das autoras do trabalho que afirma que o presidente contribuiu propositalmente para o aumento do número de mortes pela covid-19."

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade