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América Latina

Com presença de Dilma em encontro na Colômbia, Brasil dá primeiro passo para retomar integração regional

"Para nós, a questão da América Latina é central", sublinhou a ex-presidente

Dilma Rousseff (Foto: Roberto Stuckert)
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Sputnik - Centenas de líderes de esquerda, incluindo alguns ex-presidentes, se reuniram em Santa Marta, na Colômbia, entre a quinta e a sexta-feira (11), para discutir o futuro da América Latina.

Estimuladas pelo avanço das lideranças desse espectro ideológico na região, as pautas se concentraram na construção de uma nova agenda de integração local.

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Representado pela ex-presidente Dilma Rousseff no 8º Encontro do Grupo de Puebla, o Brasil deixou seu recado de um dos principais nortes da política externa de Brasília a partir de 1º de janeiro de 2023, quando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomará posse.

O desafio posto por ela, segundo relatou o jornal espanhol El País, é a integração regional da América Latina, com a reconstrução de instâncias como a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

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"Para nós, a questão da América Latina é central", sublinhou durante sua fala de ontem (10) a ex-presidente, que esteve presente ao lado de Lula em diversos momentos da campanha presidencial e no dia da vitória do 2º turno, em 30 de outubro.

Rafael Rezende, doutor em sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vê o Grupo de Puebla como um pontapé internacional do Brasil no restabelecimento das relações com os países vizinhos.

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"Com certeza, o encontro do Grupo de Puebla é um dos primeiros e muitos passos que o Brasil vai ter que dar para romper o isolamento internacional adquirido durante os quatro anos do governo Bolsonaro — que deixaram o Brasil não só isolado de seus vizinhos, como de antigos parceiros. Então, nesse sentido, o novo governo Lula vai ter que trabalhar muito para retomar essas alianças. Mas o Lula sabe o caminho das pedras", sugere.

Embora ainda não dê para se ter um balanço completo do que vai sair de efetivo desse encontro, há algumas pistas, diz Rezende.

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Na avaliação do especialista, uma delas é a questão do meio ambiente, que passa a ter uma importância muito grande na América Latina e entre a esquerda latino-americana, não apenas devido aos desafios enfrentados pela questão climática. Também pela eleição de Gustavo Petro na Colômbia, de Gabriel Boric no Chile e pela recente eleição de Lula no Brasil. "São três candidatos que bateram muito na tecla do tema ambiental durante suas campanhas", lembra o pesquisador.

"Eu não sei se podemos falar em uma onda de esquerda ou se podemos falar de um ciclo natural de mudanças de governo da democracia. Mas, com certeza, o fato das cinco maiores economias latino-americanas estarem sob governos de esquerda e de centro-esquerda facilita muito. Primeiro porque, historicamente, a esquerda latino-americana é quem tem esse olhar mais forte e mais destacado da unidade e da integração regional. Historicamente, as direitas latino-americanas têm um olhar muito mais para o norte geopolítico do que para a construção de um processo de integração regional. E também porque são governos que têm algum grau de afinidade nas suas formas de fazer política."

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Bruno Lima Rocha, cientista político e professor de relações internacionais, envereda pelo mesmo viés ao analisar o Grupo de Puebla.

Ele lembra que o Brasil é um pivô continental, e que isso está na literatura geopolítica.

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Segundo o pesquisador, se o Itamaraty retomar com muita ênfase o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a Unasul e a Celac — exatamente como a ex-presidente Dilma propôs —, o Brasil terá um papel central na América Latina.

"Se o Brasil puxar o freio de mão em relação a essa integração latino-americana, teremos problemas. Mas, precisamos do Banco do Sul (devido a depósitos volumosos, capital de empréstimo e uma ligação direta com o Brics). Sem isso, não conseguimos nos recuperar como um pivô regional e uma liderança nas relações Sul-Sul. Então, a política internacional do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Social], não por acaso, muito atacada pela Lava Jato e pela extrema-direita, vai ser fundamental nesse momento. A política de coordenação de ações integradas, investimentos conjuntos, do complexo energético (óleo e gás) também. Tudo o que é chave no crescimento e desenvolvimento latino-americano, as oligarquias e a extrema-direita fazem ataques", analisa.

Para ele, a reaproximação do Brasil com a América Latina pelo Grupo de Puebla ocorre ao menos no campo simbólico.

"O Grupo de Puebla segurou o olho do furacão quando estava operando o chamado Grupo de Lima, que era a projeção da política externa de John Bolton e Donald Trump para a América Latina. É preciso lembrar que o Grupo de Lima encabeçou a tentativa de invasão da Venezuela, que não ocorreu por pouco. Então, uma participação, ainda que mais simbólica do Brasil nesse agrupamento de líderes políticos [de esquerda] tem uma relevância", avalia.

O analista notou, ainda, que havia a presença de delegação do Partido Comunista da China no Grupo de Puebla.

De acordo com ele, a presença do Brasil entra em um jogo geopolítico duplo: uma demonstração do Brasil para com os vizinhos da América Latina e para com a China também no compasso do sistema internacional, estabelecendo, desse modo, a liderança da região latino-americana.

Como balanço do encontro, a ausência das maiores lideranças latinas (Lula, Petro e Boric não marcaram presença) sinaliza que a agenda internacional está mais apertada do que a agenda continental com a Conferência do Clima (COP-27) no Egito, aponta o especialista.

Mas também há um segundo aspecto desse balanço.

"Está se fazendo política em dois níveis, pois tem relevância dos governos subnacionais, e é muito interessante isso. A esquerda reformista latino-americana começou ganhando municípios, depois regiões e voltou a ter mais presença no Poder Executivo nacional do que na política em nível local e estadual. Entender que é um jogo de dois níveis, até pelo fato de ser realizado em Santa Marta, porque o distrito de Magdalena é um governo progressista, o que é muito difícil na Colômbia, ainda mais nessa região coalhada de guerrilhas, paramilitarismo e de operações contra o narcotráfico. Chama a atenção e é o que descrevemos na literatura como paradiplomacia ou diplomacia entre governos subnacionais", indica.

Rocha avaliou que tudo o que vai ao encontro de uma política integrada latino-americana também vai ao encontro das posições mais à esquerda na América Latina.

"A superação do realismo regional é fundamental, a essa sandice de projetar o conflito intralatino-americano na Amazônia, por exemplo. É preciso entender os interesses estratégicos [locais] em jogo em escala continental e planetária."

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