Sabes Dançar com a tua Organização?

Sabes Dançar com a tua Organização?

852 480 Hugo Gonçalves

Quem não ouve a melodia acha maluco quem dança…

Oswaldo Montenegro

DANÇAR COM OS ECOSSISTEMAS DA ORGANIZAÇÃO

Não sei que raio se passa, mas cada vez mais a temática da dança está a aparecer-me à frente. E cada vez mais relacionada com as habituais questões do desenvolvimento integrativo das Pessoas e Organizações.

O tema já serviu de inspiração para um artigo anterior sobre a Liberdade Organizacional. Mas parece que está de volta à carga?, desta vez com uma analogia sobre a forma como podemos encarar as nossas interações humanas e sistémicas numa organização, como sendo uma espécie de dança.

Muito curioso isto, sendo que existe uma passagem do livro Orgulho e Preconceito de Jane Austen que resume muito bem a minha relação com esta manifestação do Ser Humano:

– “Você dança, sr. Darcy?”
– “Não se eu puder evitar.”


Sou um Mr. Darcy ? ? ?

“Cada Átomo, Feliz ou Miserável, Gira Apaixonado, Em torno do Sol.”

Foi assim que o poeta e mestre sufi Mawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Rūmī, ou simplesmente Rumi, interpretou a dança Sufi ou Sama. 

Reza a lenda que Rumi estava no mercado da cidade de Konia quando escutou as marteladas dos ourives e teve a sensação de que elas entoavam um dikhr – ou recordação divina. Em êxtase, ele teria começado a rodopiar em volta do próprio corpo criando, assim, a dança da escola Mevlec, que ele mesmo fundaria tempos depois.

Os praticantes do sufismo, conhecidos como sufis, procuram desenvolver uma relação íntima, direta e contínua com o Universo e Natureza. A filosofia também incorpora práticas como cânticos, música e movimentos.

De acordo com a filosofia sufi, a Sama eleva a alma e leva à conexão com as nossas aspirações, com o que é importante e como podemos aceder aos nossos próprios recursos para as atingir.

Esta dança é uma busca pelo equilíbrio e de conexão, entre duas instâncias: o exterior e o interior do ser humano, ou o céu e a terra. É sobre o famoso 720º.

Top! ?

Aqui está um pequeno teaser de uma destas danças (guarda para após leres todo o artigo) – Sama Sufi

Mas voltando ao que aqui me trouxe, outro dia o Serendipity fez das suas e “trouxe” um contexto/abordagem que penso que faz todo o sentido para os dias que vivemos e para podermos fazer o design e cocriação do que queremos viver a nível profissional e organizacional. 

Donella H. Meadows, uma professora de Conservação e Ambiente da Universidade de Pew e fellow do programa MacArthur Fellow – conhecida como “Genius Grant” (a “bolsa dos génios”), foi uma das mais influentes pensadoras ambientais do século XX. 

Em 1996, Donella fundou o Instituto de Sustentabilidade (agora chamado Academy for Systems Change) com a missão de promover transições para ecossistemas sustentáveis a todos os níveis da sociedade, de local para global.

Donella acreditava que nunca poderemos compreender completamente o nosso mundo, não da forma como a nossa ciência nos levou a fazê-lo. 

A própria ciência, da teoria quântica à matemática do caos, leva-nos à incerteza irredutível. Por isso é importante calibrarmos tudo numa dimensão de Ecossistemas.

Os ecossistemas não podem ser controlados, mas podem ser concebidos e redesenhados. Não podemos avançar só com certezas num mundo com muitas surpresas. Podemos esperar disrupções e aprender e até lucrar com elas. 

Podemos ouvir o que o ecossistema nos diz, e descobrir como as suas propriedades e valores podem trabalhar em conjunto para trazer algo muito melhor do que poderia ser produzido apenas pela nossa vontade. Abaixo partilho a lista de princípios que a Donella enunciou como sendo nucleares para podermos interagir da melhor forma com todo o tipo de ecossistemas profissionais, organizacionais e de negócios.

Se desejas uma Dança Organizacional diferente, muda a música 🙂

// Sente o pulsar do Ecossistema

Antes de interagires com um ecossistema, observa com genuína curiosidade como este se comporta.

Isto leva-te à atenção e foco, aos factos e não teorias. A sensações e não “filmes” mentais. Dissolve alguns dogmas e abre perspectivas. Leva a questões. Basicamente aqui trata-se de perceber como funcionas como pessoa e profissional e expandir essa observação para a tua equipa, área funcional, organização, áreas de negócio e clientes.

Apanha o helicóptero e apenas observa. Sensemaking

// Escuta a Sabedoria do Ecossistema

Para além de observares, mantêm-te com uma escuta ativa plena. Como é que são tomadas decisões, que tipo de diálogos existem na organização, para se conseguir dar resposta a problemas, oportunidades? Como prosperar através da participação e colaboração de todos na organização?

Antes de quereres tornar as coisas “melhores”, presta atenção ao valor do que já existe.

// Areja os teus Modelos Mentais

Tudo o que sabemos são “modelos” ou construções. Expõe tudo isso aos elementos da exploração e feedback. À tua Realidade.

Convida os outros a desafiarem as tuas premissas e a adicionarem as deles. A flexibilidade mental e emocional – a vontade de redesenhar limites, de notar que um ecossistema se transformou num outro novo e muito diferente – é uma necessidade quando se vive num mundo de ecossistemas organizacionais flexíveis.

// Mantém a Humildade. Continua a aprender

Confia e dá mais espaço à tua intuição. Dá mais férias à racionalidade e lógica.

Num mundo de ecossistemas organizacionais complexos e líquidos, não é adequado avançar com diretivas rígidas e pouco flexíveis.

O que é apropriado quando se está a aprender são pequenos passos regulares e intensos, monitorização constante e vontade de mudar de rumo à medida que se descobre mais sobre onde os caminhos nos estão a conduzir

// Responsabiliza o Ecossistema

Identifica como é que uma organização define e materializa o seu próprio comportamento e tomada de decisões.

Quais os triggers externos que provocam um tipo de comportamento do ecossistema em vez de outro? Que triggers internos podem também trazer uma resposta diferente (boa ou má) ao ecossistema?

A responsabilidade intrínseca significa que o ecossistema foi concebido para enviar feedback sobre as consequências da tomada de decisões direta e rápida e convincentemente para os decisores e partes interessadas.

// Foca-te no que realmente é Importante, não no que realmente é quantificável

A nossa cultura, obcecada com os números, deu-nos a ideia de que o que podemos medir é mais importante do que aquilo que não podemos ver ou do que sentimos.

Olha ao teu redor e decide se é a quantidade ou a qualidade, o métrico ou o experiencial, que despoleta a excelência e evolução do mundo, contextos e resultados que necessitas.

// Se algo não é bom, assinala

Se algo inapropriado, inadequado, moralmente degradante, ecologicamente empobrecido, ou humanamente humilhante acontece, não deixes passar.

Ninguém pode [precisamente] definir ou medir a justiça, a democracia, a segurança, a liberdade, a verdade ou o amor. Ninguém pode [precisamente] definir ou medir qualquer valor.

Por isso devemos ser nós os representantes desses valores, e os ecossistemas devem ser concebidos para os produzir. Se não falarmos deles e apontarmos para a sua presença ou ausência, deixarão de existir.

// Aponta para o Bem Comum

Contribui para o desenvolvimento e potenciação de propriedades totais dos ecossistemas organizacionais, tais como criatividade, estabilidade, diversidade, resiliência e sustentabilidade, eficácia e otimização — sejam elas facilmente medidas ou não.

Especialmente a curto prazo, as mudanças para o bem do todo podem, por vezes, parecer contrárias aos interesses de uma parte do ecossistema. Sê um facilitador no processo de recordar de forma assertiva que as partes de um ecossistema não podem sobreviver sem o todo.

// Expande os Horizontes Temporais

No sentido de ecossistemas, não existe distinção entre logo e curto prazo. Fenómenos em diferentes prazos estão entrelaçados entre si. As ações tomadas têm agora alguns efeitos imediatos e algumas que irradiam para as próximas décadas.

Tens de estar atento tanto ao curto como ao longo prazo. A todo o ecossistema. Full Spectrum. Tempo, Espaço, Dimensões tangíveis e intangíveis.

// Expande os Horizontes de Pensamento

Desafia as disciplinas. Segue um ecossistema até onde este te leve.

Para se compreender e agir sobre estes ecossistemas líquidos, precisas da melhor combinação de capacidades e papéis. De aprender com – embora não sendo limitado por – os “economistas, químicos e psicólogos, teólogos, eremitas e influencers” da tua organização. Integrar o que te dizem e reconhecer o que podem ver honestamente através das suas lentes particulares.

A comunicação interdisciplinar só funciona se houver um problema real a resolver, e se os representantes das várias disciplinas estiverem mais empenhados em resolver o problema ou encontrar soluções e impactos, do que estarem certos. 

// Expande o teu Radar de Cuidado

Viver com sucesso num mundo de ecossistemas complexos significa expandir os horizontes de cuidado, bondade e compaixão.

Existem razões morais para o fazer, e o mindset dos ecossistemas fornece as razões práticas para apoiar os morais. O ecossistema real está interligado. Nenhuma parte da raça humana é separada de outros seres humanos ou do ecossistema global. 

// Celebra a Complexidade

O universo é desarrumado. Não é linear, turbulento e caótico. É dinâmico. Líquido. Imersivo.

Tem um comportamento transitório. Organiza-se e evolui. Cria diversidade, não uniformidade. É isso que torna o mundo interessante, é o que o torna bonito, e é isso que o faz funcionar.

Tu e a tua Organização funcionam como um Universo! ?

As Organizações manifestam-se como fractais, com detalhes intrigantes em todas as escalas, desde o microscópico ao macroscópico.

Com estes princípios do que denomino de Dança Organizacional, Donella Meadows usa uma forma poética (quem sabe mesmo até sufi) ? de nos lembrar algumas atitudes e práticas fundamentais que nos podem ajudar a sair dos nossos próprios paradigmas e deixar a sabedoria do grupo guiar o processo de encontrar soluções mais sustentáveis.

Viver com sucesso num mundo de ecossistemas requer toda a nossa humanidade, a nossa racionalidade, a nossa capacidade de descobrir a verdade da falsidade, da nossa intuição, da nossa compaixão, da nossa visão e da nossa moralidade.

Não podemos controlar os ecossistemas organizacionais ou compreendê-los de forma racional.

Mas podemos sempre Dançar com eles! ?

Obrigado, Abraço e Cuida-te,

Hugo

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