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Mundo

"É claro que os acontecimentos na Ucrânia e em torno dela são parte da luta em curso por uma futura ordem mundial", diz Lavrov

Chanceler russo publicou artigo sobre como vê a cooperação entre Rússia e América Latina

Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, fala à imprensa em Moscou (Foto: Maxim Shipenkov/Pool via REUTERS)
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247 – O chanceler russo Sergey Lavrov publicou um artigo voltado à América Latina, em que diz textualmente que o conflito na Ucrânia é parte da construção de uma nova ordem internacional e em que também propõe maior cooperação entre a Rússia e a América Latina. Leia:

Rússia e América Latina: parceria e cooperação de olho no futuro

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Por Sergey Lavrov, no Saker – Na véspera da minha visita ao continente latino-americano, decidi compartilhar com os leitores as minhas ideias sobre as perspectivas das relações russo-latino-americanas no atual contexto geopolítico.

A situação no mundo permanece extremamente tensa e continua deteriorando-se em muitos aspectos. A principal razão é a obstinação do chamado Ocidente histórico, liderado pelos EUA, em tentar manter o domínio global e impedir o desenvolvimento e o fortalecimento de novos centros mundiais. E, por fim, impor à comunidade internacional uma ordem mundial unipolar neocolonial, na esperança de “cobrar tributos da humanidade, recolhendo o aluguel do hegemon”, na correta avaliação do presidente da Federação da Rússia Vladimir Putin.

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Isto é o que está por trás da política de longa data do Ocidente de interferir nos assuntos internos de Estados soberanos, inclusive via operações ideologicamente motivadas para substituir governos censuráveis, e fazer uso generalizado de sanções ilegítimas unilaterais e tricks sujos de guerra de informação. Suas consequências já foram sentidas por muitas nações do mundo, incluindo Cuba, Venezuela, Iugoslávia, Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria.

As elites governantes dos EUA e dos países da UE sempre viram a Ucrânia como uma ferramenta para conter a Rússia moderna. Durante anos, elas vinham alimentando o regime neonazista de Kiev, que chegou ao poder em fevereiro de 2014 como resultado de um golpe de Estado inconstitucional, arrastando o país para a OTAN e fornecendo-lhe armas ofensivas. De fato, eles estavam pressionando por uma solução militar para o caso do Donbass e pela condução de limpeza étnica da população local, que se recusasse a reconhecer os resultados do golpe. Cínicas confissões dos antigos líderes da Ucrânia, Alemanha e França alegando que precisaram dos Acordos de Minsk, que eles assinaram e que foram aprovados pela resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas 2022 em fevereiro de 2015, só foram necessários para ganhar tempo e permitir que Kiev desenvolvesse suas capacidades militares. Fica evidente que Berlim e Paris têm enganado não apenas Moscou, mas toda a comunidade internacional o tempo todo. Enquanto isso, a França e a Alemanha, assim como outros países ocidentais, têm encorajado abertamente o regime de Kiev na sua recusa categórica de negociar diretamente com Donetsk e Lugansk, embora esta mesma exigência estivesse no centro dos acordos de Minsk. Isto fala bastante sobre a habilidade dos líderes europeus de negociar e a falta de decência fundamental como seres humanos .

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Ao mesmo tempo, apesar da política flagrantemente agressiva dos Estados Unidos e dos seus aliados para expandir irresponsavelmente a OTAN, violando as promessas feitas a nós no início dos anos 90,  fizemos todo o possível para reduzir o grau de tensão na Europa até o último momento. Para este fim, em dezembro de 2021, o Presidente Putin apresentou uma iniciativa para dar à Rússia – assim como à Ucrânia – garantias de segurança juridicamente vinculantes à oeste. Entretanto, nossas propostas foram tratadas com desdém e rejeitadas, em meio aos preparativos de Kiev para uma solução militar do problema de Donbass.

Isto não nos deixou outra escolha senão reconhecer as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, assinar tratados de amizade e assistência mútua com elas e, em resposta ao seu apelo oficial, lançar uma operação militar especial de acordo com o Artigo 51 da Carta das Nações Unidas. Os objetivos da operação são proteger os russos e as pessoas russófonas do extermínio nas terras onde os seus ancestrais viveram por muitos séculos, e eliminar as ameaças militares à segurança da Rússia nas nossas fronteiras ocidentais.

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É claro que os acontecimentos na Ucrânia e em torno dela são parte da luta em curso por uma futura ordem mundial. O que está em jogo hoje é se a ordem mundial será realmente justa, democrática e policêntrica, como exige a Carta das Nações Unidas que consagra a igualdade soberana de todos os Estados? Ou se os Estados Unidos e a coligação por eles liderada irão impor a sua agenda as custas de outras nações, inclusive drenando recursos em seu favor. Este é precisamente o objetivo do conceito da ordem baseada em regras. As capitais ocidentais querem substituir o direito internacional, nomeadamente os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, por estas regras que foram criadas sabe se lá por quem.

Muitos Estados que estão implementando uma agenda baseada em interesses nacionais e, acima de tudo, são regidos por seus interesses essenciais, reconhecem esta simples verdade. Não é por acaso que em todo o mundo têm se intensificado significativamente os esforços que visam abandonar o dólar no comércio exterior e criar relações de infraestrutura, logísticas, interbancárias, financeiras e econômicas fora do controle do Ocidente. Naturalmente, cerca de três quartos dos países do mundo, incluindo nossos amigos latinoamericanos, não aderiram às sanções antirrussas. Estamos gratos pela sua posição.

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A rápida mudança do cenário geopolítico abre novas oportunidades para o desenvolvimento de uma cooperação mutuamente benéfica entre a Rússia e os países da América Latina, que estão desempenhando um papel cada vez mais importante na  ordem mundial multipolar.

Na política externa russa, a América Latina e o Caribe ocupam uma posição prioritária. Não queremos que essa região se torne um palco de combates entre grandes potências. A nossa cooperação com os países da América Latina baseia-se em abordagens livres de ideologia e pragmáticas e não ameaça ninguém. Ao contrário de seus antigos colonizadores, não dividimos os nossos parceiros em amigos e inimigos. Nem os colocamos diante de uma escolha artificial – ou estão  conosco ou estão contra nós. Somos a favor de que os países da América Latina e do Caribe permaneçam unidos e com sua diversidade, e permaneçam fortes, politicamente concisos e economicamente estáveis.

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Defendemos, de maneira coerente, o fortalecimento da cooperação entre a Rússia e os países da América Latina com base no apoio mútuo, solidariedade e consideração mútua dos interesses de cada um. As relações com muitos países da região, incluindo Brasil, Venezuela, Cuba e Nicarágua, que nossa delegação visitará na segunda quinzena de abril, apoiam-se em parcerias estratégicas.

Estamos abertos para ampliar os diversos contatos a nível de chefes de Estado e de governo, parlamentos, serviços diplomáticos, outros ministérios e agências. Estamos igualmente abertos a expandir a cooperação nos foros multilaterais, primeiramente no âmbito do diálogo da Rússia com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).

Acho que temos o que apresentar ao público russo e latinoamericano. Nos últimos anos, a base contratual e jurídica tem-se expandido consideravelmente, e concerne, sobretudo, a criação de um espaço de viagens mútuas sem visto, incluindo 27 estados da América Latina e do Caribe. Toda a América do Sul e praticamente toda a América Central podem agora ser visitados sem  visto para os nossos cidadãos.

Apesar das sanções contra a Rússia e da pressão política, para não dizer chantagem, dos EUA e da União Europeia, no final do ano passado as nossas exportações totais para os Estados da região cresceram 3,8%. Fornecimento de fertilizantes e produtos petrolíferos foram intensificados também. Em 2022, a Rússia aumentou as exportações de trigo para a América Latina e o Caribe em 48,8%, quase 50%.

A propósito, gostaria de observar que fornecemos 23 milhões de toneladas de grãos e 20 milhões de toneladas de fertilizantes para os mercados mundiais sem qualquer assistência da ONU. E isto não inclui aquelas dezenas de milhares de toneladas de fertilizantes que o Ocidente bloqueia em seus portos, desconsiderando o “Pacto dos Grãos do Mar Negro” firmado em Istambul por iniciativa do Secretário Geral da ONU. Nós até nos oferecemos para distribuir estas quantidades gratuitamente aos países mais pobres. No entanto, nossos esforços nesse sentido também estão sendo impedidos.

Tanto a Rússia quanto a América Latina têm suas vantagens competitivas no contexto de processos objetivos de formação de uma ordem mundial multipolar. É importante aproveitarmos ao máximo a natureza complementar das nossas economias para construirmos plenas alianças nas áreas de projetos, produção e tecnologias, assim como incentivarmos o uso de moedas locais e alternativas ao US dólar e ao euro nas transações.

Dentro dos limites de oportunidades existentes, ajudamos a região a enfrentar os desafios do desenvolvimento internacional. Com o objetivo de fortalecer a segurança civil, estamos treinando profissionais das agências nacionais de aplicação da lei, e fornecendo apoio aos países necessitados para superarem as consequências de desastres naturais.

Gostaria de salientar o aumento constante do número de bolsistas latino-americanos que estudam em nosso país com uma bolsa fornecida pela Rússia. Dado o interesse mútuo em fortalecer os laços educacionais, estamos determinados a trabalhar ativamente para fechar acordos de reconhecimento mútuo de diplomas.

A Rússia continuará a seguir um curso independente, pacífico e multifacetado de política externa. Continuaremos a contribuir para o fortalecimento da segurança e estabilidade global, e para a resolução de conflitos. Em conjunção com parceiros de visões semelhantes, continuaremos defendendo a implementação prática dos princípios da Carta da ONU, incluindo a igualdade soberana dos Estados e a não-interferência em seus assuntos internos. Somos a favor da expansão do Grupo de Amigos em Defesa da Carta das Nações Unidas e do fortalecimento de outras associações multilaterais, incluindo os BRICS e a Organização para Cooperação de Xangai (SCO) que visam uma democratização das relações internacionais.

Permanecemos abertos a continuar estreitando os laços com nossos parceiros estrangeiros que estão dispostos a interagir conosco com base nos princípios de igualdade, integridade, respeito mútuo e consideração de interesses. É gratificante saber que os nossos amigos latino-americanos estão entre tais parceiros.

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