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Economia

Depoimento do presidente da Americanas à CPI implica Itaú, Santander e auditorias na fraude bilionária

Instituições financeiras se defenderam das acusações de que teriam ajudado a antiga gestão a fraudar resultados

Leonardo Coelho, presidente da Americanas (Foto: Reuters)
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(Reuters) – O presidente da Americanas, Leonardo Coelho, apresentou nesta terça-feira em audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a varejista uma série de comunicações internas e documentos que, segundo ele, sustentam o cometimento de uma fraude de resultado pela antiga diretoria da empresa.

Os documentos exibidos por ele na CPI, e que não haviam sido divulgados ao mercado, também apontam suposta modificação da redação de documentos contábeis por bancos incluindo Itaú Unibanco e Santander Brasil e pelas auditorias PwC e KPMG após pedidos de diretores da Americanas.

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Coelho ainda disse que os indícios recolhidos até então não revelam participação do Conselho de Administração ou dos acionistas de referência da companhia.

PwC e KPMG disseram que não podem comentar por motivo de sigilo. O Itaú Unibanco afirmou que é "leviano" atribuir a terceiros a responsabilidade pela "fraude". O Santander Brasil afirmou que a única e exclusiva responsável é a Americanas.

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Em fato relevante, a Americanas afirmou pela manhã que suas demonstrações vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da empresa. Foi a primeira vez que a companhia usou o termo fraude desde a revelação do caso, em janeiro, que levou a varejista à recuperação judicial. Até então, o tema era tratado oficialmente como "inconsistências contábeis".

"Essas evidências trazidas hoje... não mais permitem tratar como inconsistências contábeis", disse Coelho, que chegou à Americanas em fevereiro, mais de um mês após o rombo ser divulgado.

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As novas conclusões vieram de um relatório de assessores jurídicos, apresentados na véspera ao Conselho de Administração da Americanas, com informações de um comitê independente que está investigando o caso. O comitê em si, no entanto, não finalizou sua investigação e não apresentou uma conclusão, de acordo com Coelho.

Detalhes do relatório apresentados por Coelho nesta terça-feira revelam como uma suposta fraude contábil foi arquitetada pela companhia.

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Um dos documentos divulgados é um suposto email interno entre diretores da empresa com a demonstração de resultados de 2021. Esse balanço estaria com o título de "versão interna" e mostrava, entre outras coisas, um prejuízo operacional pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 733 milhões de reais para o ano.

No entanto, o que teria sido divulgado ao mercado foi uma outra demonstração, denominada de "versão conselho", com Ebitda positivo em 2,9 bilhões de reais. Esse foi, de fato, o Ebitda ajustado divulgado pela companhia na ocasião.

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Coelho afirmou que mais de 30 funcionários ainda na empresa estariam relacionados com a fraude, e que eles estão sendo demitidos nos últimos dois dias. A Americanas apontou que o relatório indica a participação do ex-presidente Miguel Gutierrez e de outros seis executivos de alto escalão. A assessoria de Gutierrez não respondeu a pedido de comentário até a publicação desta reportagem.

CONTRATOS DE PUBLICIDADE – A Americanas afirmou que a suposta fraude funcionava por meio da falsificação de contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares. Esses contratos, comuns no varejo, são fechados entre as varejistas e os fornecedores. Na prática, é como se fornecedores pagassem um valor extra, uma bonificação, para que seus produtos tenham publicidade pela varejista -- caso essa exposição se reverta efetivamente em vendas.

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Coelho mostrou aos deputados um suposto email de fevereiro de 2020 no qual um funcionário da Americanas pede a inclusão contábil de um desses contratos. Esse acordo estaria como sendo de 2019, mas, na verdade, fora criado em fevereiro de 2020, disse o executivo, citando os documentos.

O atual presidente da Americanas afirmou que não há indícios da participação de fornecedores, que podem ter tido suas assinaturas forjadas, conforme o relatório.

Segundo a Americanas, esses contratos falsos, ao longo do tempo, somaram 21,7 bilhões de reais até o terceiro trimestre do ano passado. O executivo disse que as primeiras evidências remetem a 2016, mas não há certeza se esse foi o início da fraude.

Para compensar essa receita inexistente no caixa, Coelho afirmou, citando o relatório, que a Americanas passou a fechar contratos de risco sacado com os bancos -- quando uma empresa contrata um banco para realizar a antecipação de recebíveis a fornecedor.

"Pode-se criar lucro a partir de uma planilha, só que você não cria caixa a partir de uma planilha... é preciso de uma linha de caixa, de um empréstimo bancário", disse ele.

A Americanas não divulgava corretamente no balanço as operações de risco sacado, segundo ele, o que não permitia ao mercado saber o tamanho da dívida da companhia. Além disso, os juros dessas operações eram pagos, mas também usados para reduzir os passivos, afirmou.

AUDITORIAS E BANCOS – Coelho também afirmou que os documentos mostram um suposto envolvimento de bancos e auditorias, informações que não se tinha até então publicamente.

Em um dos emails exibidos por ele, a KPMG teria modificado trecho de um relatório de 2017 sobre a B2W – empresa de comércio eletrônico que se fundiu com a Lojas Americanas em 2021 para formar a Americanas – após pedido da varejista.

Um documento inicial da empresa de auditoria sobre a B2W continha o trecho "recomendações para atenção do Conselho de Administração (deficiências significativas)", segundo apresentado por Coelho. Essa frase teria sido substituída por "recomendações que merecem atenção da Administração".

A KPMG disse que "por motivos de cláusulas de sigilo e regras da profissão, está impedida de se manifestar sobre casos envolvendo clientes ou ex-clientes da firma".

Outra citada é a PwC. Um email de 2016 supostamente mostraria a empresa modificando os termos de uma carta de representação sobre a ausência de conhecimento acerca de operações de risco sacado da Lojas Americanas. O termo "risco sacado" e outros sinônimos teriam sido retirados do trecho.

Coelho destacou, porém, que falta maior contexto no caso da PwC para entender essa comunicação por completo.

A PwC afirmou que "não comenta temas de clientes por questões de confidencialidade e regras de sigilo profissional."

O Itaú e o Santander Brasil também foram citados por Coelho, que exibiu supostas trocas de mensagens no qual os bancos privados teriam modificado a redação de cartas de circularização -- documento usado para auditoria -- após contato com diretores da companhia, também retirando termos ligados ao risco sacado.

O Itaú disse que até 2017 as cartas de circularização traziam o saldo integral das operações de risco sacado, mas a partir de 2018, após discussões de mercado, foi restringida para refletir apenas as operações contratadas diretamente pela Americanas. O banco afirmou, porém, que foi adicionado o parágrafo que alertava para a realização de operações de antecipação de recebíveis emitidos contra a Americanas.

Além disso, o Itaú acrescentou que "a elaboração das demonstrações financeiras é responsabilidade exclusiva da companhia e de seus administradores" e que é "leviano" atribuir a terceiros a responsabilidade pela "fraude".

O Santander Brasil afirmou que o fato relevante desta terça-feira "comprova taxativamente que a única e exclusiva responsabilidade pelas 'inconsistências contábeis' é da Americanas, por intermédio da sua antiga diretoria".

O banco também disse que as cartas de circularização são apenas uma entre muitas fontes de auditoria e que sempre informou integralmente todos os saldos das operações da companhia em sistema do Banco Central.

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