Accattone

Accattone

Estreia:

de Pier Paolo Pasolini

Itália, 1961, 120', Classificação M/12, Drama

com Franco Citti, Franca Pasut, Silvana Corsini

Festivais e Prémios:

Cannes Film Festival 2020 Cannes Classics

Venice Film Festival 1961

International Film Festival Rotterdam 1993

BAFTA Awards 1963 Melhor Actor Estrangeiro

Karlovy Vary International Film Festival 1962

Italian National Syndicate of Film Journalists 1962 Prémio Melhor Produtor e Nomeação Melhor Actor e Melhor argumento

Avellino Neorealism Film Festival 1962 Vencedor Prémio Especial

Ficha técnica:

Realizador Pier Paolo Pasolini

Argumento  Pier Paolo Pasolini, Sergio Citti (colaboração nos diálogos)

Fotografia Tonino Delli Colli

Montagem Nino Baragli

Produção Alfredo Bini

Distribuição em Portugal Risi Film

“Pier Paolo Pasolini não tinha previsto a própria morte, mas o modo desapiedado e atroz sim. Dizia, de facto, e escreveu-o mesmo, que a piedade morrera. Entendia a piedade no sentido da relação religiosa com o real, isto é, o contrário de impiedade, a impiedade que ele via triunfar no hedonismo de massa. Disse que prevera o modo; acrescentarei que tinha mesmo previsto o lugar. Estive no lugar onde foi assassinado e reconheci-o como se já o tivesse visto outras vezes: ele já o descrevera quer nos seus dois romances, Ragazzi di vita e Una vita violenta, quer no seu primeiro filme, Accattone.” Alberto Moravia



Nasceu em Bolonha, a 5 de março de 1922.
Foi espancado até à morte em Ostia, nos arredores de Roma, a 2 de novembro de 1975. Está sepultado em Casarsa.


Em Fevereiro de 1969, escreveu o seguinte texto autobiográfico:
«Nasci em Bolonha. Tenho 46 anos. Sou escritor-cineasta. Depois da universidade, estreei-me com a publicação de um livro de poesia, aos 20 anos. Fui professor de Letras. Dirigi revistas literárias. Escrevi livros. Fiz filmes e acabo de começar uma nova actividade, a de jornalista, colaborando num semanário onde escrevo regularmente uma crónica. Há 18 anos, cheguei a Roma e a minha situação obrigou-me a viver nos bairros pobres da capital.
Traumatizado pela vida dos subúrbios, escrevi os meus dois primeiros romances sobre este tema. Pediram-me, em seguida, para colaborar em argumentos de filmes que tinham como fundo estes bairros miseráveis. Especialmente Fellini, para As Noites de Cabíria.
Em 1961, realizei o meu primeiro filme, Accattone, com desconhecidos. Alguns espectadores fascistas atiraram ovos podres e frascos de tinta para os ecrãs de Roma, durante a sua projecção.
Rodei então, com Anna Magnani e Franco Citti, Mamma Roma; uma queixa, com a intenção de fazer apreender o filme, foi apresentada no Tribunal de Veneza, durante o Festival onde ele representava oficialmente a Itália.
Realizei La Ricotta, um episódio do filme Rogopag, contra o qual uma queixa foi apresentada em Roma, queixa que se apoiava num artigo do código fascista, e o filme foi apreendido. Fui condenado a quatro meses de prisão com adiamento.
No recurso, o Procurador-Geral da República retirou a sua queixa. Diga-se que, entretanto, realizei O Evangelho Segundo São Mateus, que foi escolhido para representar a Itália no Festival de Veneza, onde foi galardoado com o Grande Prémio do Office International du Cinéma. Em Cannes, em 1966, mais uma vez seleccionado oficialmente pela Itália, apresentei Uccellacce e Uccellini, com Totò e Ninetto Davoli, que é o filme de que eu mais gosto, pois é o mais puro e o mais pobre.
No ano seguinte, apresentava no eterno Festival de Veneza Edipo Re, cujo sucesso recebido, tanto por parte da crítica como do público, me encheu de felicidade.
O meu último filme, Teorema, mais uma vez em Veneza, recebeu o Grande Prémio do Office Catholique du Cinéma. Mas, apesar deste prémio, apesar de um acolhimento caloroso e reconfortante da crítica internacional e especialmente francesa (exceptuando a crítica fascista), isso não impediu, mais uma vez, que as queixas fossem apresentadas, sob o pretexto de obscenidade.
Fui julgado em Veneza. Arrisquei-me a vários meses de prisão. Fui finalmente absolvido.
Disseram-me que tenho três ídolos: Cristo, Marx e Freud. Não são mais do que fórmulas. De facto, o meu único ídolo é a realidade.
Se escolhi ser cineasta, ao mesmo tempo que escritor, foi porque, mais do que exprimir esta realidade pelos símbolos que são as palavras, preferi o meio de expressão que é o cinema: exprimir a realidade pela realidade».


Pier Paolo Pasolini, 1969